O Narcisismo


A primeira alteração à teoria das pulsões teve origem na descoberta do narcisismo, ou seja, na natureza libidinosa ou sexual de certas tendências até então atribuídas às pulsões do Ego.

Sustenta-se a tese de que parte do egoísmo, do amor-próprio, é da mesma natureza que a líbido investida em objetos exteriores. A líbido é a energia geral das pulsões sexuais investida no Ego, no outro ou nos objetos. A prova apoia-se no deslocamento da líbido do Ego para os objetos e destes para o Ego. A soma do interesse investido nos objetos e no Ego é constante: quanto mais uma pessoa se ama, menos ama os objetos e vice-versa. É assim que em caso de fadiga, de sonolência, de dor, de doença ou de tristeza, uma parte, maior ou menor, da líbido investida nos objetos exteriores e nas pessoas é desviada para o Ego.

Ainda que possam entrar posteriormente em conflito, a líbido do Ego e a líbido objetal têm a mesma natureza e a mesma origem. O processo dialético do pensamento de Freud conduziu assim à unificação das pulsões.

Freud, relativamente ao conceito de narcisismo, adota, num primeiro momento, uma conceção segundo a qual o narcisismo é definido como uma perversão: “o indivíduo trata o seu corpo de forma semelhante àquela como trata normalmente o corpo de um objeto sexual”.

Estas primeiras conceções do narcisismo são abandonadas em favor de uma abordagem segundo a qual o narcisismo se torna um fenómeno libidinal de alcance mais geral, que ocupa um lugar capital no desenvolvimento sexual normal: “o narcisismo não seria uma perversão mas o complemento libidinal para o egoísmo da pulsão de autoconservação atribuída a todos os seres vivos”.
 
 
 
 
 
 

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